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Ciumes

Pierrot dorme sobre a relva junto ao lago. Os cisnes junto d’elle passam sêde, não n’o acordem ao beber.

Uma andorinha travêssa, linda como todas, avôa brincando rente á relva e beija ao passar o nariz de Pierrot. Elle accorda e a andorinha, fugindo a muito, olha de medo atraz, não venha o Pierrot de zangado persegui-la pelos campos. E a andorinha perdia-se nos montes, mas, porque elle se queda, de nôvo volta em zig-zags travêssos e chilreios de troça. E chilreia de troça, muito alto, por cima d’elle. Pierrot já se adormecia, e a andorinha em descida que faz calafrios pousou-lhe no peito duas ginjas bicadas, e fugiu de nôvo.

De contente, ergueu-se sorrindo e de joelhos, braços erguidos, seus olhos foram tão longe, tão longe como a andorinha fugida nos montes.

De repente viu-se cego – os dedos finissimos da Colombina brincavam com elle. Desceu-lhe os dedos aos labios e trocou com beijos o arôma das palmas perfumadas. Depois dependurou-lhe de cada orelha uma ginja, á laia de brincos com joias de carmim. Rolaram-se na relva e uniram as boccas, e já se esqueciam de que as tinham juntas…

– Sabes? Uma andorinha…

E foram de enfiada as graças da ave toda paixão. Pierrot contava enthusiasmado, olhando os montes ainda em busca da andorinha, e Colombina torceu o corpo numa dôr calada e tomou-lhe as mãos.

Havia na relva uma máscara branca de dôr, e a lua tinha nos olhos claros um olhar triste que dizia: Morreu Colombina!

Almada Negreiros

Aspiração

Ainda o meu canto dolente
e a minha tristeza
no Congo na Geórgia no Amazonas

 
Ainda
o meu sonho de batuque em noites de luar

 
Ainda os meus braços
ainda os meus olhos
ainda os meus gritos

 
Ainda o dorso vergastado
o coração abandonado
e a alma entregue à fé
ainda a dúvida

 
E sobre os meus cantos
os meus sonhos
os meus olhos
os meus gritos
sobre o meu mundo isolado
o tempo parado

 
Ainda o meu espírito
ainda o quissange
a marimba
a viola
o saxofone
ainda os meus ritmos de ritual orgíaco

 
Ainda a minha vida
oferecida à Vida
ainda o meu Desejo

 
Ainda o meu sonho
o meu grito
o meu braço
a sustentar o meu Querer

 
E nas sanzalas
nas casas
nos subúrbios das cidades
para lá das linhas
nos recantos escuros das casas ricas
onde os negros murmuram:ainda
O meu Desejo
transformando em Força
inspirando as consciências desesperadas.

 

Agostinho Neto

Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa)

17 de Outubro de 2013

Acompanhe a conferência em directo:

http://livestre.am/14WFo

cplp

Balada da neve

Batem leve, levemente,pes-sujos
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
– e cai no meu coração.

Augusto Gil, in Luar de Janeiro

É preciso acreditar

É preciso acreditar,eeeeee

É preciso acreditar

que o sorriso de quem passa

é um bem para se guardar

que é luar ou sol de graça

que nos vem alumiar

É preciso acreditar,

É preciso acreditar

que a canção de quem trabalha

é um bem para se guardar

E não há nada que valha

a vontade de cantar

a qualquer hora cantar

É preciso acreditar,

É preciso acreditar

que uma vela ao longe solta

é um bem para se guardar

que se um barco parte ou volta

passará no alto mar

E é livre o alto mar

É preciso acreditar,

É preciso acreditar

Que esta chuva que nos molha

é um bem para se guardar

que há sempre terra que colha

um ribeiro a despertar

para um pão por despertar.

Leonel Neves

O nosso Oceano Atlântico

O Oceano Atlântico cobre sensivelmente 106,460,000 km2. Ocupa 20% da superfície do planeta Terra.

Cada um destes países da CPLP tem as seguintes Zonas Económicas Exclusivas (ZEE) no Oceano Atlântico:

Angola: 501.260 km2

Brasil: 4.489.919km2

Cabo Verde: 734.265 Km2

Guiné-Bissau: 70.000 Km2

Portugal: 3.660.955 km2

São Tomé e Príncipe: 160,000 km2

Soma da área das ZEE, dos países da CPLP, no Atlântico Oceano: 9.616.399 km2

Se algum número não estiver correcto, favor comentar!

 

Samba do Brasil

O samba é uma das tradicionais danças brasileiras, tem projecção mundial. Tem origem, com certeza, nos ritmos oriundos de África, mapa-brasil-6presumivelmente de Angola. Há quem acredite, que não por acaso, existem dois sembas/sambas, um e outro tendo a mesma raíz, partilhada pelo Brasil e por Angola. Por isso, não há que recusar, a forte ligação histórica, cultural, económica e social entre esses dois países maravilhosos, que partilham curiosamente uma parte interessante do Oceano Atlântico. Entre os maiores sambistas se podem destacar Cartola, Martinho da Vila, entre outros. Viva o Samba!

Semba de Angola

Uma dança tipica de Angola, de pendor urbano, de ritmo espectacular, cuja palavra é originária de uma de muitas línguas de Angola –  oLuanda quibundo – cujo significado será umbigo. Parece que terá surgido no século XX, nas décadas de 50 e de 60, na cidade histórica de Luanda, capital daquele grande país africano – Angola. Dançada individualmente ou a pares, está muito em voga, e é há já vários anos, um sucesso internacional, sendo por isso, ensinada em escolas pelo mundo inteiro. Convenhamos que Angola tem muito para revelar! Viva o Semba!